O papel dos homens na igualdade de gênero vai além do discurso

O Papel dos Homens na Igualdade de Gênero | ACCA

O Papel dos Homens na Igualdade de Gênero

Entre o silêncio e o ódio: por que o futuro depende da coragem de reaprender a ser homem

O patriarcado não é uma invenção das mulheres — é uma prisão construída por homens e mantida pela cultura. Durante séculos, a masculinidade foi associada à dominação, à força e ao silêncio. Esse modelo ensinou gerações a conter a dor e a transformar o medo em controle. O resultado está nas estatísticas: homens matam mais, morrem mais e amam menos.

Segundo o Atlas da Violência (2023), 80% dos homicídios no Brasil são cometidos por homens, e 77% das vítimas de suicídio também são homens. Essa crise revela algo profundo: o mesmo sistema que privilegia os homens é o que os destrói por dentro. A igualdade de gênero só será possível quando os homens deixarem de ser espectadores e se tornarem parte ativa da transformação.

Por que o papel dos homens na igualdade é urgente

Vivemos sob um modelo de masculinidade que adoece toda a sociedade. A cultura da força e do controle impede a empatia e bloqueia práticas de cuidado.

  • 80% dos homicídios são cometidos por homens;
  • 77% dos suicídios são masculinos;
  • 1 feminicídio é registrado a cada 7 horas;
  • Mulheres fazem o dobro do trabalho doméstico;
  • Apenas 21% das lideranças formais no Brasil são femininas.

A cultura do ódio: a machosfera

Enquanto os feminismos avançam, cresce na internet uma máquina de reação: a machosfera, conjunto de influenciadores, fóruns e discursos que transformam frustração masculina em ressentimento político. Essa indústria do ódio é um projeto lucrativo e ideológico que recruta meninos para a cultura da guerra simbólica.

“A machosfera fabrica o medo como identidade masculina.” — ACCA – Autonomia Feminina

Luciano Montalvão: O desarme do ódio

Luciano Montalvão

🎙 Luciano Montalvão — Episódios 67 e 68
@psi.lucianoalvarengam

Nos episódios Macho em Xeque: O Caminho Além do Ódio, o pesquisador Luciano Montalvão propõe o “desarme do ódio”. Para ele, a violência é uma forma de analfabetismo emocional: o homem foi educado a reagir, não a refletir. “O desarme começa quando a gente volta a ouvir o outro — e a si mesmo.”

Ações práticas sugeridas por Luciano

  • Círculos de escuta entre homens;
  • Educação emocional desde a infância;
  • Corresponsabilidade doméstica e afetiva;
  • Autocuidado como exercício ético;
  • Substituir a linguagem da guerra pela da escuta.

Henrique Lopes: Desejo e violência

Henrique Lopes

🎙 Henrique Lopes — Episódios 71 e 72
@henriquealo

No diálogo Masculinidade: Desejo e Violência, o psicanalista Henrique Lopes afirma: “A violência não é um instinto masculino — é a falência da palavra.” O homem que não consegue dizer o que sente, age pela força. A saída, diz ele, é elaborar o desejo em linguagem e transformar o poder em vínculo.

Estratégias de transformação

  • Falar sobre emoções em vez de reagir com agressividade;
  • Reconhecer o limite e o erro como parte do humano;
  • Elaborar o desejo e abandonar o controle;
  • Fortalecer vínculos afetivos entre homens.

Caixa de Saber: o que é Masculinidade Cuidadora?

O conceito de Masculinidade Cuidadora surgiu em estudos sobre gênero (Elliot, 2016) e foi desenvolvido por organizações como o Instituto Promundo e a ONU Mulheres. Ele propõe uma reconfiguração do papel masculino a partir da ética do cuidado — inspirada nas pensadoras Carol Gilligan, Joan Tronto, Rita Segato e Lélia Gonzalez.

Homens que cuidam vivem mais, se relacionam melhor e reduzem a violência. A masculinidade cuidadora não substitui o feminismo, mas o amplia — chamando os homens à corresponsabilidade na reconstrução da vida comum.

A igualdade começa dentro de casa

A masculinidade cuidadora nasce nas práticas simples: dividir tarefas, cuidar de filhos e idosos, falar sobre emoções, rever privilégios. É ali, no cotidiano, que se decide o futuro das políticas públicas e da cultura.

“Educar meninos para o cuidado é proteger o futuro.” — ACCA – Autonomia Feminina

Responsabilidade coletiva

A igualdade de gênero depende de um novo pacto social. O Estado precisa criar políticas de saúde emocional para meninos e homens, programas de prevenção à violência e formação de educadores em gênero e cuidado. E as empresas precisam garantir licenças parentais iguais, equidade salarial e ambientes seguros para mulheres.

Mas nada disso terá efeito se o cotidiano não mudar. É nas conversas, nas escolhas e nos gestos que se constrói a revolução do cuidado. O futuro da igualdade depende do compromisso de homens que decidem sentir — e não ferir.

Leituras e episódios

Fortaleça a rede de mulheres e homens que acreditam no cuidado como ato político.

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