Massacre nas favelas do Rio de Janeiro: violência de Estado, racismo e resistência das mulheres
O massacre nas favelas do Rio de Janeiro não é exceção. Ele revela um projeto de segurança pública que trata corpos negros e territórios periféricos como alvo militar, não como parte do Brasil que merece viver.
O massacre nas favelas do Rio de Janeiro não é um episódio isolado. Após uma megaoperação policial nos complexos da Penha e do Alemão, moradores denunciam dezenas de mortos, serviços básicos interrompidos e territórios inteiros cercados por tiroteio. Além disso, relatos apontam que famílias ficaram horas sem poder sair de casa, inclusive com crianças deitadas no chão para tentar fugir dos disparos vindos de helicópteros.
Esse massacre nas favelas do Rio de Janeiro expõe, mais uma vez, quem o Estado escolhe como alvo. Ao mesmo tempo, mulheres das comunidades contam que foram elas que acolheram feridos, protegeram vizinhos e recolheram corpos em becos e áreas de mata. No entanto, enquanto a favela tentava enterrar os seus, o governo estadual apresentou a ação como “vitória” no combate ao crime.
Segurança pública que se mede em cadáver não é segurança. É controle pelo medo. Portanto, o que vemos não é “excesso operacional”: é violência de Estado.
O massacre nas favelas do Rio de Janeiro é política de Estado, não erro operacional
A explicação oficial é sempre a mesma: “combate à facção”. No entanto, quem sofre o impacto direto dessa retórica é a população civil negra e pobre. Em outras palavras, a favela paga com o próprio corpo o que o governo tenta vender como “segurança”.
Além disso, não existe política pública séria quando escolas precisam fechar por medo de tiro, quando postos de saúde interrompem o atendimento e quando mães passam a noite cobrindo crianças com colchões para impedir que uma bala atravesse a janela. Por outro lado, a mesma operação é celebrada pelo poder público como se fosse prova de eficiência.
Na prática, o massacre nas favelas do Rio de Janeiro reafirma quem o Estado considera descartável. Consequentemente, vidas negras continuam tratadas como alvo militar — não como cidadania.
- corpos viram estatística e vitrine política;
- crianças crescem normalizando helicópteros atirando;
- famílias precisam enterrar seus mortos sem proteção;
- e o restante da cidade é convidado a achar isso “normal”.
Quem morre no massacre nas favelas do Rio de Janeiro?
O discurso oficial fala em “suspeitos abatidos”. Apesar disso, quem está nas vielas sabe que existem desaparecidos, mães procurando jovens que não voltaram para casa e famílias que nem conseguem registrar a morte. Há também corpos que sequer entram na contagem oficial.
Essa dor tem nome, tem rosto, tem casa. Ao mesmo tempo, é uma dor coletiva.
Além disso, são as mulheres da favela que seguram o mundo nos braços depois de cada operação: elas acolhem crianças, escondem vizinhos, improvisam cuidado médico, recolhem corpos, organizam velórios, denunciam. Isso é trabalho político e emocional que o Estado ignora porque depende dele para continuar se chamando “Estado”.
- proteger crianças;
- cuidar de feridos e traumatizados;
- negociar acesso a serviços básicos enquanto o território está sitiado;
- gritar por justiça quando o resto do país tenta seguir a vida normalmente.
Sobreviver, aqui, é uma forma de resistência coletiva feminina.
Violência policial, racismo e controle territorial
Chacinas como essa não são acidente nem “desvio de conduta”. Elas são o modo de operar da segurança pública brasileira. Desde a ditadura até hoje, a lógica se repete: controlar territórios racializados por meio do medo, da presença armada e da eliminação física.
Quando o Estado aparece na favela, quase nunca é com escola em tempo integral, saneamento, cultura, renda ou saúde. Ao contrário, ele aparece com blindado, fuzil e helicóptero atirando.
- não é com posto de saúde — é com blindado;
- não é com escola integral — é com fuzil;
- não é com saneamento — é com helicóptero atirando.
Quando a sociedade aceita isso como normal, ela está dizendo: existem vidas que podem ser tiradas sem comoção nacional.
O que a ACCA afirma diante do massacre nas favelas do Rio de Janeiro
Em primeiro lugar, não existe democracia em um país que mata suas próprias comunidades. Isso não é segurança pública: é um projeto de poder sustentado na eliminação de corpos negros e periféricos.
Além disso, não há justiça social sem enfrentar o racismo estrutural que orienta esse tipo de operação. Estamos falando de uma política que escolhe territórios específicos, nomes específicos e corpos específicos para punir.
Por fim, falar sobre o massacre nas favelas do Rio de Janeiro é um ato de memória e responsabilidade histórica. A vida das mulheres, das crianças, das trabalhadoras, das avós e da juventude negra não é descartável. E isso precisa ser dito em voz alta.
A Plataforma Autonomia Feminina – ACCA defende autonomia, proteção, cuidado e dignidade para quem sobrevive todos os dias a essa violência.
O que precisa acontecer agora
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Exigir investigação independente e transparente.
Não basta nota oficial. É necessário responsabilizar tanto a cadeia de comando quanto a execução em campo. -
Apoiar as redes de denúncia e cuidado construídas dentro da própria favela.
A narrativa central é a de quem viveu. Consequentemente, a escuta ativa da favela é parte da defesa de direitos humanos. -
Recusar a naturalização da violência.
A frase “bandido bom é bandido morto” não é opinião neutra. Em resumo, ela é autorização de massacre. -
Redefinir segurança pública.
Segurança não é blindado na esquina. Segurança é viver sem medo, com escola, saúde, trabalho e dignidade.
Para aprofundar o tema da proteção entre mulheres e redes de apoio frente à violência, recomendamos também a leitura de Entre o Silêncio e a Coragem: redes femininas no enfrentamento à violência.
Para referências internacionais sobre direitos das mulheres e enfrentamento à violência institucional, consulte ONU Mulheres.
O massacre nas favelas do Rio de Janeiro segue uma longa linha de operações apresentadas como “bem-sucedidas”. Entretanto, quem morre é sempre o mesmo corpo social: juventude negra, pobre, favelada.
Após cada operação violenta, são as mulheres que fazem acolhimento psicológico, procuram desaparecidos, negociam com o Estado, limpam sangue e sustentam o cotidiano. Além disso, esse cuidado é política.
A ACCA defende autonomia, proteção, dignidade e memória para as mulheres e comunidades atingidas pela violência de Estado. Portanto, nossa comunicação é parte dessa luta e dessa documentação.
Memória, denúncia e autonomia das mulheres
Não se trata só do que aconteceu ontem ou hoje. Em vez disso, a questão é como a gente continua existindo depois.
Porque memória é resistência.
Porque nomear a violência é o primeiro passo para transformá-la.
Porque nenhuma mulher caminha sozinha.




