Às Mulheres.
Ao Tempo.
Ao Futuro.
Escrevemos esta carta porque o silêncio já custou vidas demais.
Escrevemos porque, enquanto o mundo insiste em nos apagar, seguimos vivas — e isso, por si só, já é um gesto político.
Em 2025, quatro mulheres são assassinadas por dia no Brasil vítimas de feminicídio.
E 196 mulheres são estupradas. Diariamente.
Não por acaso. Não por amor. Mas porque ousaram existir em um país que ainda confunde poder com violência e masculinidade com controle.
Cada mulher morta tinha nome. Tinha história. Tinha futuro interrompido.
E enquanto nossos corpos caíam, nos pediam calma. Nos pediam paciência. Nos pediam que esperássemos.
Nós não esperamos mais.Esta carta é um rompimento. É um marco. É uma recusa coletiva.
Recusamos a naturalização da violência.Rejeitamos a ideia de que sobreviver já é o suficiente. Rompemos com a culpa, o medo e o isolamento que nos foram ensinados como destino.
Nós sabemos: as que mais sangram são as mulheres negras, periféricas, pobres, quilombolas, indígenas. Sabemos porque o Estado escolhe quem proteger — e escolhe quem abandonar.
Mas também sabemos outra coisa, e isso tentam esconder:
Quando mulheres se organizam, a história muda.Há 23 anos, a ACCA decidiu que cultura não seria entretenimento vazio, mas ferramenta de consciência. Que educação não seria privilégio, mas estratégia de autonomia. Que arte não seria ornamento, mas território de liberdade.
Em 2025, enquanto tentavam nos silenciar, ampliamos vozes.
Enquanto votavam retrocessos, construímos redes.
Enquanto espalhavam medo, cultivamos conhecimento.
Falamos de feminicídio sem eufemismo.
Falamos de saúde mental sem romantização.
Falamos de maternidade sem culpa.
Falamos de cidade, território, corpo, desejo, trabalho, renda, cuidado.
Ocupamos telas. Ocupamos palavras. Ocupamos ruas.
Marchamos com as mulheres negras porque a reparação não é pauta identitária — é dívida histórica. Marchamos porque sem justiça racial não há autonomia feminina possível.
Esta carta também é um agradecimento.
A cada mulher que se reconheceu em nossas vozes. A cada uma que escreveu dizendo “agora entendo que não estou sozinha”. A cada aliada, aliade e aliado que escolheu caminhar ao nosso lado.
Mas, acima de tudo, esta carta é um compromisso.Seguimos ampliando vozes.
Seguimos formando mulheres.
Seguimos criando caminhos de renda, autonomia e pertencimento.
Seguimos ocupando todos os espaços onde tentarem nos apagar.
Porque autonomia não é conceito — é prática cotidiana.
É rede. É corpo em movimento. É escolha diária.
Se você é mulher e lê esta carta: você não está só.
Se você é homem e lê esta carta: a mudança começa em você, agora.
E se você acredita que outro mundo é possível, saiba: ele já está sendo construído.
Por mulheres.
Em rede.
Sem pedir permissão.
23 anos construindo autonomia para as mulheres brasileiras




